Causa do incêndio, o mais catastrófico da história no país, jamais foi descoberta Foto: Revista Flagrante! / Reprodução
Fábio Prikladnicki
Fábio Prikladnicki
"O Espetáculo Mais Triste da Terra" resgata história da maior tragédia circense do país.
Circo pegou fogo há exatos 50 anos no Rio de Janeiro, deixando 503 mortos
Em um abafado domingo em Niterói, então capital do Rio de Janeiro, há exatos 50 anos, um garoto de nove anos conseguiu furar a enorme fila que se formava do lado de fora da lona e garantiu um lugar na plateia. Em 17 de dezembro de 1961, nada poderia magnetizar mais a atenção de uma criança do que o maravilhoso mundo do circo.
Com o primo de 12 anos, parceiro na aventura, o garoto assistiria ao final do número de trapezistas para pegar a sessão seguinte desde o início. Não deu tempo.
Logo alguém gritou: "Fogo!". Depois de não mais do que 10 minutos de horror, a lona estava abaixo. Consumidas pelas labaredas, as cores do circo deram lugar a um cenário de terra devastada. O garoto escapou, mas decidiu voltar para buscar o primo. Ficou preso e teve de ser resgatado pelos bombeiros. Durante os oito meses em que ficou no hospital, teve a perna esquerda amputada e se tornou a primeira pessoa no Brasil a receber pele liofilizada (que retém os líquidos que seriam perdidos quando um paciente se queima). Foi atendido por um cirurgião plástico em ascensão chamado Ivo Pitanguy e recebeu a visita de João Goulart. O então presidente da República o consolou mostrando o problema em seu próprio joelho esquerdo, que o impedia de dobrar a perna. Dois anos depois, Teixeirinha lançou Tragédia no Circo, música que lembrava do incêndio.
Dos mais de 3 mil espectadores, 503 morreram, segundo a prefeitura (o número ainda hoje é motivo de divergência). Os médicos estimaram que 70% eram crianças. Na ocasião, o episódio foi definido como "a maior tragédia circense da história" pela agência internacional de notícias Associated Press. Ainda hoje é considerado o maior incêndio com vítimas do Brasil.
Depois da comoção, veio o luto. Nas décadas seguintes, muitos dos sobreviventes silenciaram sobre o ocorrido. Até que os fatos foram resgatados em uma pesquisa do jornalista Mauro Ventura, que durou dois anos e meio e está registrada no livro-reportagem O Espetáculo Mais Triste da Terra (Companhia das Letras, 352 páginas, R$ 46), lançado no final de novembro.
A verdadeira causa do incêndio jamais foi descoberta. Um sujeito chamado Adilson Marcelino Alves, o Dequinha, foi condenado com outras duas pessoas. A opinião pública se dividiu entre os que acreditavam que o incêndio foi intencional e os que consideravam Dequinha um desajustado inconsequente. Ainda hoje se aventa a possibilidade de um curto-circuito acidental. As condições de segurança do circo eram precárias: havia apenas uma saída para o público.
Apesar do nome, o Gran Circo Norte-Americano jamais esteve nos Estados Unidos. Seu dono era o gaúcho Danilo Stevanovich, nascido em Cacequi em uma família de origem iugoslava. A tradição circense, segundo consta, estava em seus antepassados havia mais de um século. Danilo era um dos 10 filhos de Dimitri e Maria, que se conheceram na França. Quando chegaram à América do Sul, foram equivocadamente saudados como norte-americanos — daí o nome do circo, que em 2000 passou a se chamar Le Cirque e funciona até hoje, comandado pelos sobrinhos do dono e seus netos. Danilo morreu em 2011.
Com o primo de 12 anos, parceiro na aventura, o garoto assistiria ao final do número de trapezistas para pegar a sessão seguinte desde o início. Não deu tempo.
Logo alguém gritou: "Fogo!". Depois de não mais do que 10 minutos de horror, a lona estava abaixo. Consumidas pelas labaredas, as cores do circo deram lugar a um cenário de terra devastada. O garoto escapou, mas decidiu voltar para buscar o primo. Ficou preso e teve de ser resgatado pelos bombeiros. Durante os oito meses em que ficou no hospital, teve a perna esquerda amputada e se tornou a primeira pessoa no Brasil a receber pele liofilizada (que retém os líquidos que seriam perdidos quando um paciente se queima). Foi atendido por um cirurgião plástico em ascensão chamado Ivo Pitanguy e recebeu a visita de João Goulart. O então presidente da República o consolou mostrando o problema em seu próprio joelho esquerdo, que o impedia de dobrar a perna. Dois anos depois, Teixeirinha lançou Tragédia no Circo, música que lembrava do incêndio.
Dos mais de 3 mil espectadores, 503 morreram, segundo a prefeitura (o número ainda hoje é motivo de divergência). Os médicos estimaram que 70% eram crianças. Na ocasião, o episódio foi definido como "a maior tragédia circense da história" pela agência internacional de notícias Associated Press. Ainda hoje é considerado o maior incêndio com vítimas do Brasil.
Depois da comoção, veio o luto. Nas décadas seguintes, muitos dos sobreviventes silenciaram sobre o ocorrido. Até que os fatos foram resgatados em uma pesquisa do jornalista Mauro Ventura, que durou dois anos e meio e está registrada no livro-reportagem O Espetáculo Mais Triste da Terra (Companhia das Letras, 352 páginas, R$ 46), lançado no final de novembro.
A verdadeira causa do incêndio jamais foi descoberta. Um sujeito chamado Adilson Marcelino Alves, o Dequinha, foi condenado com outras duas pessoas. A opinião pública se dividiu entre os que acreditavam que o incêndio foi intencional e os que consideravam Dequinha um desajustado inconsequente. Ainda hoje se aventa a possibilidade de um curto-circuito acidental. As condições de segurança do circo eram precárias: havia apenas uma saída para o público.
Apesar do nome, o Gran Circo Norte-Americano jamais esteve nos Estados Unidos. Seu dono era o gaúcho Danilo Stevanovich, nascido em Cacequi em uma família de origem iugoslava. A tradição circense, segundo consta, estava em seus antepassados havia mais de um século. Danilo era um dos 10 filhos de Dimitri e Maria, que se conheceram na França. Quando chegaram à América do Sul, foram equivocadamente saudados como norte-americanos — daí o nome do circo, que em 2000 passou a se chamar Le Cirque e funciona até hoje, comandado pelos sobrinhos do dono e seus netos. Danilo morreu em 2011.
Nenhum comentário:
Postar um comentário