segunda-feira, 9 de abril de 2012

Circo Baixada pode fechar por falta de patrocínio

O Circo Social Baixada, projeto que há 10 anos ensina arte e cidadania a crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade, está prestes a terminar por falta de financiamento.
A lona, erguida em 2002 na Vila Camorim, em Queimados, ajudou a transformar a região. Estima-se que em dez anos, cerca de cinco mil pessoas tenham sido beneficiadas pelo projeto, concebido pela fundação suíça "Terre des hommes", de apoio à infância e adolescência. O programa oferecia todas as atividades de circo, além de percussão, teatro, artes plásticas, dança e cuidado com o meio ambiente a cerca de 200 crianças, mensalmente. Agora, restaram apenas o ensino das atividades de circo nas escolas chamado "Espaço que protege" e uma trupe com 15 adolescentes, que se apresentará no próximo dia 19 no teatro Raul Cortez, em Duque de Caxias com o espetáculo: "Brasil, a cara do mundo".
A coordenadora do projeto, Nilcelene Moreira, de 43 anos, afirma que o projeto de arte-educação, criado pela fundação, foi elaborado para durar dez anos. O repasse seria reduzido gradualmente e as atividades, assumidas pelo poder público, mas não foi o que aconteceu.
Superação no Picadeiro
Foi no picadeiro que muitos amenizaram as dores da violência e de relações familiares frágeis. Leandro da Conceição, por exemplo, corre atrás do tempo perdido. Aos 18 anos, ele acabou de ingressar no 6º ano do Ensino Fundamental:
— O circo mudou minha vida. Poderia ser um traficante. O que vou fazer $o circo acabar? Não me imagino longe do picadeiro — lamenta ele.
Especialista em acrobacias de solo, Wanderson da Silva, de 18 anos, virou arte-educador no projeto, onde faz de tudo um pouco:
— Tinha dificuldade em conviver com as pessoas. Tinha complexo de inferioridade. No circo venci os meus piores medos e traumas.
Burocracia já dura um ano
Foi no circo que Aniele Marinho, de 24 anos, percebeu que a vida estava lhe dando uma segunda chance. O lugar era, literalmente, o trampolim que a levaria a um novo patamar.
Aniele foi morar na rua com a mãe, quando tinha apenas 5 anos. Aprendeu a pedir dinheiro e a vender balas para sobreviver.
Aos 16 anos, já era viciada em drogas e no projeto aprendeu que a vida pode oferecer muito mais:
— Pela primeira vez, me percebi fazendo parte de um todo — comenta ela, que concluiu os estudos e se tornou educadora social. Ela quer se tornar juíza da Vara da Infância.
Já Andreza Monteiro, de 17 anos, adora viver nas alturas. É com as pernas de pau que se realiza.
— Eu adoro me sentir grande —diz ela.
A coordenadora do Circo Social, Nilcelene Moreira, de 43 anos, diz que eles precisariam de R$ 16 a R$ 20 mil por mês:
— Existe o desejo da prefeitura em assumir o projeto. Mas, desde maio de 2010 que nada ultrapassa o nível do diálogo.
Em nota, a Prefeitura de Queimados informou que o processo está em andamento e precisará passar por licitação. A prefeitura não informou os valores que serão destinados ao Circo.
O projeto Circo Baixada
Circo Baixada é um projeto com atividades circenses que tira as crianças da rua, oferecendo aulas de teatro, de dança, artes circenses e jogos educacionais e recreativos para os seus beneficiários - mais de 180 crianças. Foi fundado em 2002, quando foi constatado que 49% das crianças de rua do estado estavam na Baixada Fluminense, demonstrando a necessidade de um projeto como este naquela área. O Circo Baixada vê a reintegração das crianças e adolescentes em situação de risco com as suas respectivas famílias e comunidades como prioridade.

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